quinta-feira, 17 de junho de 2010

O aniversário

31 de Outubro de 2010

Querido diário, você sabe que você nunca foi querido por mim, mas por algum motivo de força maligna ou angelical (tenho problema com as duas) eu recebi você para fomentar meu ódio e revolta pelo meio podre e degenerado que cegos e pessoas compradas tendem a chamar de Terra, o doce lar. Não pense que se você pudesse expressar algum sentimento (e eu sei que você não consegue) você consideraria cada palavra escrita um corte violento, mas para mim também, e não me sinto mal em dizer, cada palavra que eu escrevo em você me dá vontade de vomitar e dizer coisas piores do que as que eu escrevo (por isso não irei escrevê-las aqui).

Você sabe que dia é hoje? Dizem que é um dia muito especial. Algumas crianças dizem que esse dia é o meu aniversário. Dizem que esse dia nada mais é do que um dia em que se pode pregar peças nas pessoas sem se sentir culpado ou com remorso: O dia das bruxas. Francamente, me considerar no mesmo patamar que as bruxas, velhas, feias, donas de casa, ingênuas onde o único erro delas foi não de terem bichos nojentos como amigos, mas de ter a igreja como inimiga alimenta ainda mais meu desejo de odiar essa geração de jovens: ignorantes, fracos, escravos da tecnologia e daqueles que lhes prometeram liberdade. Prometeram apenas...

Mas considerar esse dia somente para as bruxas seria um pecado de exclusão e eu, na minha humilde e errante filosofia, não posso me comparar a eles cometendo o mesmo delito voluntário que cometem, por isso que esse dia é como se fosse para mim um “carpe diem” barroco, que apesar de parecer errado, é aceitável o uso desse termo. Como não devo satisfação a você e deixar as pessoas com dúvida alimenta meu ego, que já é pequeno, procure a resposta em algum dicionário. Se você encontrar, é claro.

Monstros. Desde a antiguidade estiveram presente na sociedade e sempre partiam de uma mesma definição: criaturas diferentes das criaturas existentes que, por ser a maioria, banalizavam e condenavam esses que se diferem como sendo aberrações, demônios, ou qualquer tipo de merda que pudesse sair de suas mentes poluídas e deturpadas. Ou da própria merda que saía deles. Mas a vantagem para os que apreciam esses “monstros” é que eles sempre aparecem, sempre retornam. Eles nunca permitirão que essa sociedade de criaturas viva os seus 5 minutos de paz, em meio a uma vida inteira de guerras inúteis e sem sentido. Eles remodelam o que virou podre, redefinem o que deixou de ser arte: são os verdadeiros salvadores da humanidade.

E agora diário, sem ter sido consultado ou analisado, mais um monstro ergue para continuar o papel dos seus antepassados, o de apresentar um espelho que reflita o futuro de desgraças que esses líderes suicidas estão caminhando lentamente como se estivessem atravessando um campo. Eu fui o escolhido. Por quê? Por quem? Como? São perguntas irrelevantes. A pergunta mais lógica seria até quando? Por quanto tempo eu terei o prazer de não ter prazer naquilo que vejo e ouço? Quanto tempo será que essa cobaia não venha a ser tomada pela loucura e se esqueça de que tudo não passa de um jogo, e comece aos poucos achar que tudo realmente não passa de um jogo e trocar as peças é a coisa mais simples que existe?

Não sei (também sou pego pelo benefício da dúvida), mas o que eu sei é o que eu não vou querer saber quando eu finalmente sair do casulo e tiver a liberdade limitada de fazer jus ao nome que as crianças me deram, pois quando eu sair, a igreja que tente ser minha inimiga para ver como a imagem do inferno será um campo harmonioso se comparado aos feitos que eu irei fazer usando apenas a força da minha mão para te torturar, diário.

Contudo eu ainda estou aqui, em processo de metamorfose a espera da dominação total da loucura e a derrota humilhante da consciência. Mas quer saber qual é meu único conforto? Que você sabe a história de um futuro criminoso e serial killer, mas não pode fazer nada para me impedir. O benefício da dúvida nada se compara ao benefício da inutilidade. Quer um presente melhor do que esse? Obrigado querido diário...

Laudo criminal: Suicídio (aparentemente) por uma pena que usava para escrever um livro que apresenta ser uma espécie de diário. Nenhuma suspeita ou dica para resolver esse caso. Única pista: manchado na parede de vermelho (pela cor, parecia ser sangue) escrito “Não foi dessa vez. Descanse no casulo eternamente” (Labirinto). Primeiro caso com o nome Labirinto na cena do assassinato. Sem comentários...

Um comentário:

  1. Que brutoooo!! Minha irmã também faz aniversário no dia das bruxas! :D

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