Se Cronos existe, me dê mais um tempo
Um motivo, uma falsa esperança, um erro
Pois o poeta que habita em mim vai morrer
E a crueldade encoberta é que trará esse fim
Pela maçã envenenada, a paixão de nada.
É um absurdo crer que o poeta vai morrer
Onze anos sobreviveu e onze anos sofreu
Sofreu, mas aprendeu, aprendeu a resistir
Mas o mundo, com seus valores trocados
Trouxe a angústia, o medo e a decepção.
Se o poeta morrer, que fim terá o seu jardim?
O seu labirinto, berço de criações e suas dores
Onde ele colheu várias rosas belas e proibidas
Mas pelo espinho de uma, certa foi sua queda
E todas outras foram queimadas e esquecidas.
Afrodite, não permita que o poeta venha a morrer
Ele foi seu eterno servo, amigo, mediador e mártir
Sem querer ele te deu razão, poder, poder de ser
Agora impeça que a morte cumpra sua ordem
E que o cupido a acerte com a última flechada.
Que morra então a feiticeira, e não o poeta
Essa bruxa astuta, mascarada e sedutora
Cegue-a, pois, pela sua própria claridade
Que levou o poeta a viver perante as trevas
Que apesar de morto, erroneamente a ama.
Ó loucura, chegue primeiro, antes da morte
Pois o reino dos sonhos é um reino mágico
Vivo de sonhadores, malucos e nefelibatas
Pelo menos aí o poeta se sentirá em casa
E o final feliz existirá no fim da estrada.
Eu gostaria de dizer antes do poeta morrer
Que mesmo morto, suas obras serão vivas
Ainda que ingênuas, simples e paranóicas
E que todo erudito e ignorante que tema:
Pois suas obras serão suas eternas justiças.
A morte se aproxima, a hora é chegada
Querido por poucos, mal-visto por muitos
Será levado, enfim, para seu leito de artista
Poucas lágrimas caem, exceto o das nuvens
E o fim: o silêncio mortal. Morre o poeta.
Batam palmas demônios, serpentes e bruxas
Alegrem-se, espinhos negros da rosa negra
Festejem, alvos não alcançados pelo seu arco
Celebrem, ó musas causadoras de sua angústia
Mas que venham artes, e os amaldiçoem!
Suplico-te, feiticeira, livra-o desse destino
Mate a morte, mate a sorte, mas não o poeta
Salve-o com sua magia, a do arrependimento
Dê a maçã da esperança, não a maçã envenenada
Ou então morra de uma vez, desapareça, não exista!
Enquanto eu viver, serei como dois loucos errantes:
Um que tentará quebrar seu feitiço, e desmascará-la
E outro que suplicará para sua impossível conversão
Pois você nunca se verá livre, mas como uma escrava
Eis as opções: despertar o poeta, ou o monstro? Escolha...
Obs: Por mais que esse poema tenha um tom pessimista e de revolta, quis colocar, porque também é uma obra de minha autoria, e mesmo tendo escrito há muito tempo (quando era mais incerto de certas coisas), não poderia deixá-lo de lado.
Olá Tiago, sei que é um pouco longíquo o meu comentário, mas é que estou procurando uma imagem para a capa do meu livro, e se você permitir gostaria que fosse está que você postou neste poema. Falando nele, é muito bom. O pessimismo é uma ótima inspiração, tem palavras e sentidos meramente brilhantes. E você ousou disto, o que é bem legal.
ResponderExcluirParabéns, entre em contato e diga-me o que pensa do meu pedido.
Até breve. Abraço.
Não some não!Tens um ar de ÁLvares de Azevedo a imagens da maçã é D+ . Essa historia eu conheço e acho q fui essa bruxa para alguém mas saiba que essa alguém ainda mora no meu coração toda moeda tem 2 lados.
ResponderExcluirVolta pro Blog és muito talentoso e o poema muito show!