domingo, 5 de dezembro de 2010

Maçã Envenenada


Se Cronos existe, me dê mais um tempo

Um motivo, uma falsa esperança, um erro

Pois o poeta que habita em mim vai morrer

E a crueldade encoberta é que trará esse fim

Pela maçã envenenada, a paixão de nada.


É um absurdo crer que o poeta vai morrer

Onze anos sobreviveu e onze anos sofreu

Sofreu, mas aprendeu, aprendeu a resistir

Mas o mundo, com seus valores trocados

Trouxe a angústia, o medo e a decepção.


Se o poeta morrer, que fim terá o seu jardim?

O seu labirinto, berço de criações e suas dores

Onde ele colheu várias rosas belas e proibidas

Mas pelo espinho de uma, certa foi sua queda

E todas outras foram queimadas e esquecidas.


Afrodite, não permita que o poeta venha a morrer

Ele foi seu eterno servo, amigo, mediador e mártir

Sem querer ele te deu razão, poder, poder de ser

Agora impeça que a morte cumpra sua ordem

E que o cupido a acerte com a última flechada.


Que morra então a feiticeira, e não o poeta

Essa bruxa astuta, mascarada e sedutora

Cegue-a, pois, pela sua própria claridade

Que levou o poeta a viver perante as trevas

Que apesar de morto, erroneamente a ama.


Ó loucura, chegue primeiro, antes da morte

Pois o reino dos sonhos é um reino mágico

Vivo de sonhadores, malucos e nefelibatas

Pelo menos aí o poeta se sentirá em casa

E o final feliz existirá no fim da estrada.


Eu gostaria de dizer antes do poeta morrer

Que mesmo morto, suas obras serão vivas

Ainda que ingênuas, simples e paranóicas

E que todo erudito e ignorante que tema:

Pois suas obras serão suas eternas justiças.


A morte se aproxima, a hora é chegada

Querido por poucos, mal-visto por muitos

Será levado, enfim, para seu leito de artista

Poucas lágrimas caem, exceto o das nuvens

E o fim: o silêncio mortal. Morre o poeta.


Batam palmas demônios, serpentes e bruxas

Alegrem-se, espinhos negros da rosa negra

Festejem, alvos não alcançados pelo seu arco

Celebrem, ó musas causadoras de sua angústia

Mas que venham artes, e os amaldiçoem!


Suplico-te, feiticeira, livra-o desse destino

Mate a morte, mate a sorte, mas não o poeta

Salve-o com sua magia, a do arrependimento

Dê a maçã da esperança, não a maçã envenenada

Ou então morra de uma vez, desapareça, não exista!


Enquanto eu viver, serei como dois loucos errantes:

Um que tentará quebrar seu feitiço, e desmascará-la

E outro que suplicará para sua impossível conversão

Pois você nunca se verá livre, mas como uma escrava

Eis as opções: despertar o poeta, ou o monstro? Escolha...

Obs: Por mais que esse poema tenha um tom pessimista e de revolta, quis colocar, porque também é uma obra de minha autoria, e mesmo tendo escrito há muito tempo (quando era mais incerto de certas coisas), não poderia deixá-lo de lado.

2 comentários:

  1. Olá Tiago, sei que é um pouco longíquo o meu comentário, mas é que estou procurando uma imagem para a capa do meu livro, e se você permitir gostaria que fosse está que você postou neste poema. Falando nele, é muito bom. O pessimismo é uma ótima inspiração, tem palavras e sentidos meramente brilhantes. E você ousou disto, o que é bem legal.
    Parabéns, entre em contato e diga-me o que pensa do meu pedido.
    Até breve. Abraço.

    ResponderExcluir
  2. Não some não!Tens um ar de ÁLvares de Azevedo a imagens da maçã é D+ . Essa historia eu conheço e acho q fui essa bruxa para alguém mas saiba que essa alguém ainda mora no meu coração toda moeda tem 2 lados.
    Volta pro Blog és muito talentoso e o poema muito show!

    ResponderExcluir