sábado, 17 de abril de 2010

O jardineiro cego

Em uma vila pacata, próxima de um vale, vivia um homem feliz e em paz com a vida, com a natureza e com os outros que viviam lá. Todos o amavam e respeitavam. Seus dois filhos, um menino e uma menina, sua esposa, a mais bela da vila, seus amigos e até inimigos, se ele tivesse um.
Dentre os seus amigos, o que ele tinha mais afinidade, que se relacionava mais, era com o Anjo, que apesar de ser anjo, sempre tinha tempo para conversar com esse homem, e nessas conversas, o anjo sempre aconselhava e ensinava o homem a exercer a bondade e o amor.
O motivo para que ele fosse tão querido e amado era por causa de sua profissão, que era ser um jardineiro. Todos na vila compravam de suas mui belas rosas, que não se sabe como, elas tinham um perfume agradável que quase durava para sempre. ninguém daquela vila sabia como criar rosas mais formosas do que as desse homem.
Um belo dia, em um de seus diálogos com o Anjo, ele disse para o homem que teria que atravessar o vale para completar sua missão que lhe foi destinada. O homem ficou muito triste, e tentou convencê-lo de ficar, mas o Anjo não iria voltar com a sua palavra. Mas antes de partir, o Anjo alertou o homem para que ele nunca se esquecesse de que o Anjo um dia iria voltar, e de nunca plantar rosas na região inferior a da vila, pois aquela região era proibida (mas o Anjo não explicou o porquê).
Naquela tarde, o Anjo se despede do homem, de todos da vila, e atravessa o vale. O homem, desapontado pela partida do seu melhor amigo, subiu no monte, e se pôs a chorar, de tal forma que seu choro foi ouvido por todos da vila. Mas quando começou uma forte tempestade, todos da vila voltam para seus lares, e assim também o homem.
Enquanto o tempo passava, e o Anjo não retornava, toda a alegria do homem ia diminuindo, e cada vez mais, ele se distanciava de sua família e de seus amigos.
Certa noite, ele pensou ter ouvido a voz do Anjo, e correu na direção que ele achava que estaria Ele. Então ele correu, e correu e parou na região inferior da vila, que foi onde ele pensou ter ouvido o Anjo. Vendo que foi um equívoco, resolve voltar.
Porém ao perceber a região infeiror, do qual nunca havia visto nem chegado perto, sente um ar diferente nessa região, como se o solo estivesse triste por não possuir nenhuma rosa. O homem, resolve plantar uma rosa, e depois volta para a sua casa.
No dia seguinte, o homem resolve voltar para o lugar para ver como estaria aquela rosa plantada. Ao chegar lá, ficou maravilhado com o que vira: uma rosa, diferente de todas já plantadas por ele, acabara de nascer naquele solo que o Anjo disse que era ruim e proibido. Maravilhado com a beleza da rosa, esquece das plavras do Anjo, e começa a plantar mais rosas nesse solo, na esperança de nascerem rosas tão ou mais belas que aquela que ele vira.
Dia após dia ele preparava aquele solo, e plantavam mais e mais rosas. Enquanto mais rosas plantava, mais se maravilhava e mais prazeroso ficava, sempre desejando plantar mais e mais.
Mas a medida que seu desejo por essas rosas crescia e crescia, o amor que ele tinha pelos outros diminuia e diminuia. Ele não mais brincava com seus filhos, não mais saía com sua esposa, não mais conversava com seus amigos. Não suportando essa atitude do homem, pouco a pouco eles atravessavam o vale, e nuncam mais retornaram.
Sem perceber, o homem perdeu sua mulher, seus filhos e seus amigos, mas nada mais importava para ele, a não ser palantar e plantar mais rosas.
Um pequeno problema crescia conforme ele plantavam as rosas: ele criava raízes junto com as rosas, ou seja, ele cada vez mais se tornava parte desse imenso jardim, mas como ele estava cego pelo desejo e pela cobiça de plantar mais e mais rosas, ele nem percebia.
Certo dia, o Anjo retorna a vila, passando pelo vale (foi o único que voltou), a procura do seu amigo, mas em todo lugar que encontrava, ele não estava. A única coisa que o Anjo via era solidão, tristeza e abandono. O Anjo também sentia um cheiro podre que se alastrava em cada lugar que ele procurava pelo homem.
Ao chegar na região inferior, o Anjo se depara com uma cena horrível: um imenso jardim de rosas mortas, que cheirava podridão, e que destruia toda a vida naquela vila. Irado, lança uma flecha de fogo no jardim, para queimá-lo totalmente.
O homem, ao perceber que algo estava queimando, ele levanta sua fronte para ver o que era. Ao ver o Anjo, ele grita por Ele, mas o Anjo não o escuta, pois ele não era mais um homem. Ao perceber que ele havia se tornado parte do jardim, percebeu que aquelas belas e formosas rosas nada mais eram que plantas podres que destruiram toda a vila, bem como os moradores. E foi aí que ele recordou das palavras do Anjo de se afastar da região inferior. Sem ter por onde escapar, o homem é queimado, junto com aquele imenso jardim, pois ele desobedeceu o Anjo e trouxe o caos aquela vila, ficando cego com o feitiço que havia naquele solo. Tchau, tchau jardineiro cego...
Obs: Que jardim que está cegando você, para que você não enxergue a verdadeira realidade do mundo à sua volta?

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