sábado, 24 de abril de 2010

Testamento incompleto

Imagine que vocês estão em um velório qualquer. E que nesse velório existem muito poucas pessoas, mas todas as que aqui se encontram estão em prantos e ressentidas pela perda do ente querido. Imaginem também que o cemitério está na época do inverno, com neve cobrindo parte das lápides, um vento frio pairando no ar, as pessoas usando vestes de frio para se protegerem, e uma vegetação simples ao redor desse cemitério. Se vocês conseguiram imaginar tudo isso, poderei prosseguir.
Agora irei falar um pouco dessa pessoa que teve a infelicidade ou felicidade de falecer. Era um jovem, de 11 anos aproximadamente (não me lembro exatamente sua idade), que tinha um futuro a viver, mas que morreu. E sua morte não passou de um mal entendido, na verdade, a sua morte seria a resolução de um conflito extenso que parecia não ter fim. Acreditem ou não, mas ele morreu consciente de sua morte, achando que o conflito se resolveria, mas devido a mãe das ingenuidades (que nunca desampara os seus) esse conflito nada mais era do que um fetiche, algo abstrato, irreal, e o pobre jovem morreu sem necessidade. Por que eu sei disso? Duas coisas: Eu fazia parte do conflito e eu fui o responsável pela sua morte...
Aqueles que não desistiram de continuar o texto depois dessa revelação, contarei toda a verdade, mas não digam que eu não avisei. Como essa verdade envolve outras pessoas que não quero citar, irei contar a verdade usando pseudônimos para as pessoas envolvidas no conflito, e no final, darei uma conclusão do processo em pauta.
O poeta estava com seus 11 anos de vida. Era um amigo e tanto. Não era melhor que os meus melhores, mas era um dos melhores. Minha afeição por ele se dava pela sua identidade: seu jeito romântico de ser, sua vassalagem amorosa completa, seu amor pelo tema mulher, seu prazer em ser cortês com as mui donzelas, enfim, um verdadeiro "gentleman". Infelizmente, ele também tinha suas loucuras: o platonismo, que desde de que o conheci, fizera parte de sua vida, como se o próprio amor ideializado que ele sentiu ao longo de sua vida fosse seu verdadeiro amor. Contudo, seu platonismo, apesar de ter submetido-o à situações humilhantes e perigosas, sempre o enchiam de coragem. Corajoso ele não era, mas ele tinha espírito de coragem, isso tinha.
Agora vamos para o tal confito: seu último platonismo, a maga branca, foi ao meu ver, parte de todo ese conflito, e é por meio dele que me basearei para contar a história.
Diferente dos outros platonismos, esse não foi o que mais durou , mas de acordo com o poeta, foi o mais diferente, e por isso, o que mais teve importância em sua curta vida. Eu conheci a maga branca, e tenho de concordar, ela era especial. Tão especial que até mesmo hoje, eu e meus melhores amigos discutimos assuntos referentes a ela em homenagem ao poeta. Sua simplicidade, seu caráter, seu eu, sua fé, foram os temperos para criar uma beleza que só podia ser interpretada pelo poeta, coisa que nem mesmo eu compreendia, somente ele e Deus, claro.
Mas com eu havia dito antes, foi apenas um amor platônico, melhor dizendo, foi o amor platônico.
Ao ter descoberto isso, ele ficou amargurado. Não só por não ter conseguido realizar seu tão desejo sonho (imaginem qual), mas porque ele achou que, por essa diferença, fosse realmente acontecer. Quais diferenças? Primeiro, a de que pela primeira vez, e me alegro ao dizer isso, ele teve como conselheiro dessa situação Deus, e isso foi muito bom; depois, o fato de ele ter gostado do que a pessoa era, e não do que ela aparentava ser (seu físico), coisa que foi inédita para ele; terceiro, a torcida (não encontrei termo melhor) que estava adorando essa idéia e que o ajudava. Atrapalharam também, mas gosto de pensar que não foi por querer. Esses são apenas os mais importantes que posso descrever para vocês. Agora o conflito, a parte que todos aguardavam.
A maga branca, que nada queria com ele, passou a se comportar de maneira estranha, pouco antes de ele ter se declarado para ela (como eu havia dito, ele tinha espírito de coragem), e foi aí que todo o conflito começou. Queria poder dizer que ela foi culpada por tudo isso, bem como a de sua morte, mas não foi isso que aconteceu. E agora vocês sabem disso, mas ele, o poeta, não soube.
O que ele sabia era que teorias e mais teorias de seus melhores amigos, meus melhores amigos, surgiam a cada dia, e todas elas eram eram desenvolvidas principalmente pelo paranóico, sujeito difícil de se lidar, mas que fazia parte da nossa turma. Segundo ele, e naquela época eu também concordava, a maga branca havia se tornado indeferente com o poeta e comigo também pelo fato de ela ter criado uma mentira que ficou por tanto tempo, que passou a ser uma verdade para ela (esse é o paranóico). O poeta então começou a se mostrar impotente e fraco, concluindo, estava desesperançoso.
Por ser um dos meus melhores amigos, ele me procurou para conversar, afinal eu sou o mais velho deles. Mas como eu também estava influenciado pela idéia do paranóico, apresentei uma péssima solução para ele. O resto vocês podem imaginar, afinal ele está morto.
E pouco tempo depois de sua morte, um anjo veio, que estava prometido que viria algum dia e explicou tudo, mas para o poeta, já era tarde demais. A explicação basicamente foi: a indeferença da maga branca foi um auxílio para que o poeta esquecesse dela, e uma vez esquecido, pudessem voltar a ser amigos.
O paranóico se calou, e todos lamentaram pela morte desnecessária do poeta e, logiacamente, eu fui o que mais se entristeceu, e foi por um triz meus amigos, que eu não fiquei mais paranóico que o paranóico. Mas eu estou vivo, e tenho de carregar esse fardo por toda a minha vida...
Agora vamos a explicação entendível do assunto: o poeta era parte da minha identidade, assim como o paranóico, e os outros melhores amigos (tipo uma relação de suserano e vassalo entre mim mesmo). Eu achei que se eu matasse o poeta, parte da minha identidade, a coisa seria melhor. Mas uma pessoa, que louvo a Deus por ela existir, me disse a verdade verdadeira, mas o poeta já havia morrido. Última consideração, considerem morte como um descanso que não se sabe quanto tempo vai durar.
De maneira nenhuma eu aniquilaria essa minha identidade, mas ela está dormindo, a espera de um milagre que a faça despertar. Que milagre seria? Uma dica: sábia e bela costela...
Porém se algum de vocês fazem parte dos poucos que lamentam por sua "morte", aqui vai o endereço onde vocês podem visitá-lo:
Rua Mente Limitada TOT, número 16011993, bairro cavalheiros-cavaleiros
E se por um acaso vocês, assim como eu, torcem para que o poeta desperte algum dia, duas coisas: primeiro, não matem o poeta que existe dentro de vocês (não vale a pena) e segundo, orem para que a costela esteja próxima, seja ela a maga branca ou qualquer outra, pois só Deus sabe, meua amigos, como eu sinto falta do poeta, e como eu desejo que minha prometida acabe com esse guardião que faz com que ele continue dormindo e o livre desse pesadelo, e ponha um fim nesse testamento incompleto. Mas o jeito agora, é de esperar e esperar. É agoniante, digo para vocês, mas tudo isso não passou de minha culpa, e essa é, por enquanto, minha eterna sentença...

2 comentários:

  1. Maldita espera em Tiago? Espero que o poeta venha acordar um dia, e consequentemente q vc ache-a.

    Davi.

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  2. Muito bruto :) Gostei D+ Apesar de ser um tanto triste :(

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