segunda-feira, 24 de maio de 2010

D.D.C. Cap.5

O castelo de Imaginar, apesar de toda a sua simbologia e alta importância para o reino, nada mais é do que um castelo igual ao dos príncipes absolutistas, sem nenhuma diferença. Nada tão exagerado, e nada tão inovador. Provavelmente porque, nem o príncipe ou seus amigos se interessam por estética de fortalezas. Há coisas mais importantes e com mais valor para eles cuidarem.

Ao entardecer, os dois chegam ao castelo, e já partem para o salão principal começarem um diálogo

_ O que vou fazer Cristopher? Não posso resolver esse assunto agora. Tenho muito trabalho a resolver: visitar o Criativo, ver o Perdão, continuar de olho na Abominação...

_ Toda ela, senhor?

_ O ideal seria vigiar toda ela, mas infelizmente não tenho forças suficientes. Orgulhoso é o único do qual eu posso vigiar; por ser o líder, acredito que isso já basta, pelo menos por enquanto.

_Entendo. Que o Rei nos ajude.

_Assim espero, Cristopher. É o que eu sempre espero.

Em seguida, Rubert aparece descendo as escadas (o príncipe e Cristopher estão no salão principal) trazendo seu velho pergaminho de anotações. Ele chega até o salão e vai ter com o príncipe.

_ Boa tarde, majestade. Espero não estar interrompendo nada, mas é que tenho um novo registro em meus dados.

_ Rubert, não percebe que o senhor está cansado da viagem que fez? Ele precisa descansar!

_ Tudo bem, Cristopher. Se não fosse algo importante, Rubert não viria me ver agora. Pois bem, meu amigo, do que se trata?

_ Majestade, andei observando algumas regiões do reino, você sabe, ossos do ofício. Quando percebi que, que... (engasgo)

_ Que o quê, Rubert?

_ Temos (engasgo de novo) uma nova visita. Uma jovem que acaba de chegar ao reino. Uma nova candidata a... Princesa.

_ Não pode ser! Quer dizer que, depois de todos esses curtos ou longos anos, aparece uma nova jovem? O que fazer agora, senhor?

_ Peço perdão por ter dito assim tão rápido. Achei que sua majestade gostaria de saber o quão antes.

Mais uma vez o príncipe se cala. Não pelo motivo de antes, com certeza. Diante de todas essas tarefas e responsabilidades que tinha de tratá-las, a chegada de uma jovem era algo inesperado e inacreditável. Depois de poucos ou vários minutos, o príncipe voltou a si.

_ Senhores, meus caros, amigos. Se não se importam, irei para o meu quarto mais cedo. Não irei cear com vocês e os outros hoje, comerei sozinho. E tenho mais umas coisas a dizer, prestem atenção.

Os dois se concentram em ouvir o que o príncipe está para dizer.

_ Amanhã, nem mesmo vocês ou os outros precisam trabalhar. Vocês terão um dia de folga acidental, por assim dizer. O único que peço a vocês para o alertarem é Omni, para que continue cuidando do Perdão. Quanto ao resto, vocês têm um dia de liberdade para fazerem o que quiserem. Eu proíbo vocês de exercerem seus cargos amanhã, estão me ouvindo?

Todos respondem que sim. Meio assustados com essa decisão, mas continuam a ouvi-lo.

_ Pois bem: a outra notícia é que depois desse dia de folga, teremos uma reunião. Não uma reunião qualquer, uma assembléia extraordinária. Todos devem comparecer inclusive as damas de Halbert, Nicolas e a sua também, Cristopher. Esse assunto, Rubert, e mais outros serão discutidos entre nós. Não quero nem saber se alguém faltar essa reunião. A conseqüência será bem severa. Estou sendo claro?

Mais uma vez eles acenam as cabeças, ainda assustados.

_ Está certo. Agora vou para o meu quarto e não quero ser interrompido. Uma boa noite e um bom dia de folga para vocês, amigos. Que o Rei nos abençoe e nos proteja para todo o sempre.

_ Ao Rei toda a honra e toda a glória, senhor!

_ Que seu saber e seu amor nos invada hoje e sempre, majestade!

O príncipe então parte para o seu quarto, enquanto os dois permanecem no salão.

_ Será que eu fiz errado de ter contado isso ao príncipe, Cristopher?

_ Espero que não, Rubert. Espero que não.

Assim, os dois vão avisar os outros desse ultimato do príncipe o mais urgente possível. No quarto real, o príncipe fica andando de um lado para outro, sempre olhando para um ponto específico da parede: um enorme quadro com uma rosa com cinco pétalas, cada uma com um nome escrito: a do centro, Maga Branca; a de cima, Musa Jovem; na esquerda, Raio de Sol; na direita, Cisne do Campo; e a de baixo, Formoso Carvalho. Enquanto olha para o quadro, começa um monólogo.

_ Por que estou tão preocupado? Existem coisas mais importantes e urgentes para me preocupar! Tenho de encontrar o Criativo, e depois de achá-lo, convencê-lo a não desistir do seu ofício; tenho que fazer o Perdão parar de se culpar pela morte do Poeta, antes que esse sofrimento psicológico passe para uma tortura física; tenho que descobrir porque minha memória foi em parte bloqueada, ou sabotada, ou sabe lá o que pode ter acontecido com ela; tenho que fazer com que ninguém da Abominação visite Dr. Paranóico e comece tudo outra vez; tenho de manter a ordem no reino, com o auxílio do meu Rei, meu Pai, meu Deus; e agora mais essa: o que fazer com essa jovem? Agora que ele não está mais aqui... Por que você escolheu morrer tão cedo, caramba?

E pega um retrato que estava no criado-mudo e joga no chão. O móbile se quebrou, mas a foto continua intacta. O príncipe pega a foto e olha para ela: na foto está ele e mais alguém abraçado perto de um bosque. Meu palpite, meus caros, é que o outro cara é o Poeta. Depois ele coloca a foto na cama, e tira o quadro da rosa da parede. Continua com seu monólogo.

_ Todas vocês eu sempre quis que fossem minhas princesas, e me esforcei muito para que isso fosse possível. O Poeta principalmente, mas você (aponta para a pétala do centro) foi a que mais me marcou, e a que trouxe mais mudanças aqui no reino, e na minha vida. Como eu queria que você fosse a minha princesa, mesmo que não fosse eterna, mas só por um tempo...

O príncipe começa a chorar. Ele vai para a porta do seu quarto, tranca-a, abre a enorme janela que permite a visão de todo o reino, e segurando o quadro bem forte, abraçando a pétala do centro, pronuncia as últimas palavras da noite.

_ Que o Rei queira que essa nova visita não venha a ser nova. Ao menos sonhar não causa dor de cabeça...

E fica observando o reino, ainda abraçado ao quadro. À medida

que chora, começa a chover no reino. Uma chuva forte e
profunda que sabe lá quando ela vai parar. O que se sabe
dessa noite é que, pelo menos para o príncipe, ela vai ser
solitária, fria e triste.

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